domingo, 20 de novembro de 2011

Em barro, tintas ou fotos, sempre com fé na arte

               Fotos: Patrícia Martins
Em fotografia feita no dia 17 de agosto de 2011, Hailton trabalha numa peça de encomenda

São mais de 14 anos de experimentações em diversas linguagens em artes plásticas, e igual ou maior número de participações em oficinas de pintura, cerâmica, máscaras, azulejo, mosaico e fotografia, entre Feira de Santana e o Museu de Arte Moderna (MAM), em Salvador. Hailton, que não está apenas flertando com a cultura afro-brasileira, em especial sua religiosidade, diz não ter preferência por algum suporte em especial, embora saiba que a tendência das artes contemporâneas esteja mais ligada à fotografia, e esta seja também mais uma de suas atividades.

Logunedé é demais, sabido, puxou aos pais
Se a alma do homem é naturalmente religiosa, como sentenciou Orígenes, entre os séculos II e III de nossa era, é natural que das mãos de Hailton Getúlio saiam obras que, não sendo propriamente sacras, são sacramentadas pelo precioso sentimento de “pertencimento” – caro e necessário para o povo de origem africana, espalhado pelo mundo ocidental pela escravidão.
“Esta coisa está tão no sangue, que eu não sei dizer se comecei a fazer arte por causa da religião”, ou se foi o contrário, diz o filho de Logunedé (ori) e Baluaê (juntó). Seu bisavô era babalorixá em Salvador, seu avô era ogã e o pai também fazia parte da família de santo.Hailton tem 23 anos de iniciado e mais de 10 como axogun (sacerdote responsável pelo sacrifício de animais em rituais).


Não chuta, que é macumba!
“Tudo o que faço em arte está muito ligado à religião. A minha visão e minha luta são esta. E este é o meu modo de colaborar com a manutenção dos signos do candomblé. Acredito mesmo que é um modo de fazerem respeitá-la”, declara. “A intolerância de um modo geral, em particular a religiosa, tem trazido sérios problemas para o povo de santo, que ainda tem pouca representatividade e visibilidade na sociedade. Precisamos, urgentemente, de uma cultura de tolerância e de convivência com as mais diversas denominações religiosas. ‘Chutar porque é macumba’, como dizia uma música de axé, é alimentar o ódio entre as pessoas. O correto seria não chutar justamente porque é macumba. Este é o caminho para a cultura de paz de que tanto precisamos”, completa.

Dijunas
Em abril de 2010 Hailton levou para o Museu de Arte Contemporânea (MAC) a sua quarta exposição individual (tendo também participado de 10 exposições coletivas), composta por 18 telas, intitulada “Dijunas”. O projeto veio logo depois que o artista plástico, que trabalhou por mais de onze anos na Biblioteca Central Julieta Carteado (BCJC) como auxiliar de bibliotecário, pôde dedicar-se exclusivamente às artes.
   
Encomendas
“Quando eu trabalhava na BCJC, além dos cursos e oficinas dos quais participei, não tinha tempo pra nada. Era difícil conciliar meu trabalho com a arte”, conta. Ele também diz que, mesmo afastado de funções burocráticas e trabalhando com o que sempre desejou, não tem tempo pra dar conta das encomendas, que vão estátuas em argila, telas e mosaicos. “Se eu fechar minha agenda hoje e disser ‘não pegarei mais encomenda enquanto não der conta das que já tenho’, levaria ainda uns cinco anos para entregar tudo o que tenho que entregar”, revela o artista. Cansaço? “Nunca. Afinal faço o que sempre quis fazer”, finaliza.

Publicado na edição nº 3.649 do Folha do Estado da Bahia, 13 de novembro de 2011

Nenhum comentário:

Postar um comentário